[Resenha] Perdida, Carina Rissi - Perdida #1

Título: Perdida
Autora: Carina Rissi
Série: Perdida #1
Editora: Verus
Páginas: 364
Onde comprar: Amazon
"Segurei o pequeno aparelho prateado e apertei a tecla liga. Nada aconteceu. Virei o telefone em busca de algum outro botão, mas não encontrei nada. Apertei a tecla verde novamente.
Nada! Mas que droga! Não me admira custar tão pouco. Não funciona! Talvez fosse esse o motivo de a vendedora agir de forma tão estranha e relutante. Ela sabia que estava quebrado.
Cheguei à praça praticamente deserta e tentei mais uma vez.
Nada de novo!
Girei nos calcanhares para voltar até a loja e dizer umas coisinhas àquela vendedora esquisita, enquanto apertava freneticamente o botão verde.
Então, de repente, a tela se acendeu. Pouco a pouco foi ficando mais clara, até se tornar insuportável e eu não conseguir mais olhar para ela. Parecia que tudo ao meu redor estava envolto naquela luz absurdamente forte e branca. Cega pelo clarão, acabei tropeçando em alguma coisa e caí."
Sofia Alonzo é uma garota de vinte e cinco anos que tem um emprego comum, um apartamento bagunçado e é totalmente viciada em tecnologia. Em certa sexta-feira, sua melhor amiga, Marina, mais conhecida como Nina, a chama para ir a um barzinho, com o intuito de comemorar uma notícia importante. Chegando lá, e ao saber que a melhor amiga vai se casar, Sofia se empolga demais e acaba bebendo muito. Nesse mesmo dia, ainda no bar, enquanto vai ao banheiro, Sofia deixa seu celular cair no vaso sanitário. Desesperada, pois sente que não consegue ficar sem suas redes sociais, seus contatos e seu e-mail, a garota volta para casa e no dia seguinte, assim que acorda, com ressaca, ela corre para comprar um novo aparelho. Ao chegar na loja, uma vendedora para lá de estranha insiste em lhe vender um novo modelo de celular, que tem somente dois botões.

"– Não precisa se incomodar. Não pretendo ficar por muito tempo. Na verdade, preciso voltar pra casa imediatamente. Mas valeu pela preocupação.
Toda vez que eu abria a boca, parecia ter o poder de arregalar os olhos de quem estivesse ouvindo, assim como Elisa fizera agora. Eu não tinha dito nenhuma asneira.
Ou tinha?
– Conseguiu se lembrar de como voltar para casa? – a ruiva perguntou. – Pensei que estivesse sofrendo de um lapso de memória. Não foi isso que nos disse há pouco, senhor Clarke?
Clarke?
– Sim, senhorita Teodora. Foi como eu disse, a pancada na cabeça deixou a senhorita Sofia ligeiramente confusa – ele respondeu, erguendo as sobrancelhas.
Ah! Ian Clarke. A garota estava chamando aquele rapaz, que parecia ser mais jovem que eu, de senhor Clarke!
Onde foi que eu vim parar?"
A garota, empolgada pela oferta de algo bem diferente, logo realiza a compra e vai para casa com sua nova aquisição. Porém, no caminho, enquanto está tentando ligar seu novo aparelho, ela tropeça, visualiza uma luz muito intensa, bate a cabeça, e logo se vê em um lugar que parece-se com o local onde ela estava antes, mas está cheio de modificações, e parece totalmente antigo!


Antes que tenha muito tempo para pensar, aparece um homem, em cima de um cavalo, vestindo roupas que parecem tiradas dos romances de Jane Austen, do século XIX, que Sofia tanto ama. Qual não é sua surpresa quando ela começa a conversar com o tal homem, que se apresenta como Ian Clarke, e que parece um pouco maluco, pois fala para Sofia que ela está no século XIX mesmo, mais propriamente no ano de 1830. Porém, mesmo achando o "cara" totalmente insano, ela está com a cabeça ferida, e não sabe como voltar para casa, então se vê obrigada a ir para a casa do estranho, e aos poucos, enquanto se desespera para tentar voltar para o seu mundo, vai conhecendo melhor aquele cavalheiro gentil, educado e diferente que é Ian Clarke, e percebe que talvez, só talvez esteja se apaixonando um pouquinho por ele, e começa a descobrir que estar Perdida as vezes não é tão ruim.
"– É tão ruim aqui? – perguntou, triste.
– Não é ruim. Apenas diferente. Eu nem posso usar minhas próprias roupas sem ofender ninguém! – Sua sobrancelha se arqueou minimamente, quase me fazendo rir. Eu poderia passar mil anos tentando convencê-lo de que a minha saia era, sim, uma peça do vestuário feminino atual que não escandalizaria ninguém, mas não obteria sucesso. Se ao menos ele entendesse... – Tem tanta coisa que eu queria que você conhecesse, coisas de que eu gosto e sinto falta, coisas que só existem lá onde eu vivo.
– Como o quê? – ele perguntou, com a curiosidade estampada naqueles olhos negros e brilhantes.
– Como a Nina, minha melhor amiga, por exemplo. Nós nos conhecemos na faculdade e desde então nunca mais nos separamos. Ou o Rafa, o namorado dela, quase marido agora. No começo ele é meio difícil de engolir, mas depois que você se acostuma acaba gostando dele. – E, por incrível que parecesse, eu sentia saudade dele também. – Ou o banheiro. É tão incrível, Ian, tem tudo nele, você apenas gira uma alavanca e a água sai quentinha. E tem a privada, é claro, muito útil e indispensável. E sinto falta do cinema, da música. Sinto muita falta da música... – Depois da Nina e do banheiro, era a coisa de que eu mais sentia falta."
Com tiradas engraçadas, uma escrita cativante e personagens que nos atraem, Carina Rissi constrói uma história deliciosa de se ler, cheia de humor e romance, e nos deixa ávidos para conferir mais um pouquinho sobre esse casal inusitado.
"– Como pode sair água quente de uma alavanca? – indagou espantado.
– A água não sai da alavanca! – eu ri. – Ela apenas controla o fluxo de água que sai do... hã... Descobriram um jeito de aquecer a água do banho, ela sai fria do cano e entra num aparelho chamado chuveiro. Se parece com... com... Imagine um balde, só que, no fundo desse balde, tem centenas de furinhos. Não é bem isso, mas é quase isso! A alavanca serve para controlar o fluxo de água ou interrompê-lo, e também para regular a temperatura. Então, quando se gira a alavanca, a água passa por dentro do chuveiro, que a aquece, e sai na temperatura certa por esses furinhos. – Difícil explicar o uso do chuveiro elétrico para alguém que nem ao menos sabia o que era energia elétrica.
– Imagino que existam muitos cientistas nesse lugar. Fazem isso aqui parecer um século atrasado – ele riu.
– Dois! – corrigi, rindo com ele.
– O que disse?
– Hã... Nada."
Sabe aquele livro em relação ao qual não temos absolutamente nenhuma pretensão, esse era o livro Perdida, para mim, ou melhor, os livros da Carina Rissi. É, ela é uma autora totalmente bem-conceituada, muito elogiada, mas eu não tinha nenhuma vontade de conhecê-la, pois pelas resenhas que acompanhava, imaginava a série Perdida como um romance bobo. Mas, como as vezes quando alguém elogia muito um livro eu sinto vontade de lê-lo, isso ocorreu, e enquanto uma amiga lia e elogiava a escrita, fiquei tentada e um dia que não sabia o que começar, essa obra foi a minha escolha do momento. E, mais uma vez fui muito surpreendida, positivamente, diga-se de passagem. Assim que comecei a leitura, fui totalmente cativada pela escrita de Carina, que é instigante, bem-humorada e super leve, o que é algo que noto muito nos livros, pois se eu não gostar da escrita, pelo menos cinquenta por cento da obra fica comprometida para mim.

Confesso que os primeiros capítulos se mostraram um pouquinho arrastados, com Sofia reclamando daquele acontecimento que o destino lhe impusera, e com suas tentativas de entender o que acontecera. Mas também me diverti um bocado, pois a cada nova coisa que ela precisava fazer, ficava se questionando como faria sem a tecnologia, e nisso, o livro traz uma ótima reflexão, falando do quanto damos importância aos aparelhos tecnológicos e o quanto nos tornamos dependentes deles no mundo atual, a ponto de acharmos que não conseguiremos viver sem eles. Mas a medida que fui evoluindo na leitura, assim como o coração de Sofia foi se abrindo para aquele novo mundo, o meu também se abria para perceber o quão maravilhoso é esse livro, e logo, me vi presa a leitura, sem conseguir largá-la, ansiosa para saber o que viria a seguir, e de certa forma muito feliz por saber que teria mais livros desse casal pela frente.

Conforme comentei acima, a escrita da Carina é um dos pontos que mais me cativou. Detalhista na medida certa, sem fazer reflexões forçadas no meio do texto, que é algo que encontro muito em alguns livros, e que acabam deixando a obra cansativa, e com uma ótima descrição, ela sabe exatamente como prender o leitor e como trazer-nos uma mescla de gêneros, ora trazendo um romantismo intenso, e ora trazendo um humor que dá toda a leveza para a obra. E falando em leveza, esse é outro dos pontos mais gostosos que encontramos, é um livro daqueles que nos aquecem e nos faz suspirar, mas sem trazer exageros como juras de amor eternas e essas outras coisas romantizadas demais que me irritam nos livros. Também, achei ótimo ela ter inserido no final algumas notas que esclareceram a história e o significado de alguns objetos que são mencionados, e que já não usamos mais, e a partir desse cuidado que a autora teve, podemos ver que ela não simplesmente escreveu uma obra do nada, e sim empreendeu uma pesquisa intensa para escrever de acordo com a época. Além disso, amei o fato de tudo se passar no Brasil, e em nenhum momento a autora tentou americanizar as coisas, ou fazer o país ser mais avançado do que o era no século XIX e nem tentou criar um cenário mirabolante, fazendo algo muito bom com o que realmente existiu no passado.

Não encontro pontos necessariamente negativos a destacar, porém, o fato de eu ter achado os primeiros quinze capítulos bastante arrastados acabou fazendo com que a leitura fosse mais enrolada para mim, e isso permitiu que eu não chegasse a dar ao livro as cinco estrelinhas merecidas. Talvez pode ser um pouco incômodo para alguns leitores também, o fato de não termos uma explicação exata do que levou Sofia até aquele tempo e aquele lugar, mas é preciso lembrar-se de que esse é somente o primeiro livro de uma série, e que essa descoberta não é necessariamente o foco do livro, e sim o relacionamento que se desenvolve entre os personagens principais.

Quanto aos personagens, Sofia é uma mulher bastante engraçada e sua obsessão com a tecnologia é bem interessante de se acompanhar, mas é admirável sua coragem diante de algo tão novo e sua crença intensa em tentar descobrir o que aconteceu, ao invés de sucumbir a pensamentos de que sua sanidade está afetada. Já Ian é o típico homem fofo do século XIX, mas achei ele bastante natural, sem ser forçado, e gostei muito de a autora ter colocado ele como um homem digno e comportado, e não ter apelado para o famoso estereótipo de cafajeste pegador que depois se apaixona pela mocinha e sossega. Alguns outros personagens secundários como Madalena e Gomes, a governanta e o mordomo, respectivamente, Elisa, a irmã de Ian e Nina, a amiga de Sofia tiveram um desenvolvimento bem completo, tendo papéis bastante significativos durante todo o enredo, e estes tiveram grande importância durante a obra, o que também me deixou encantada, pois o foco não ficou só no casal, como vemos em alguns livros.

A narração dessa história é toda feita em primeira pessoa, por Sofia, e isso é incrível, pois mergulhamos em sua mente, e conseguimos entender tudo o que ela sente, pensa e como ela vê as coisas. A divisão foi feita em quarenta e seis capítulos de um tamanho razoável, e realizei a leitura em ebook, e não encontrei erros.


Recomendo essa história para leitores que gostam de enredos divertidos, leves e românticos, e para aqueles que querem conhecer uma autora nacional incrível, que tem uma carreira muito promissora pela frente e que merece todo o reconhecimento e todos os aplausos possíveis.

Classificação:

3 comentários

  1. Eu já ouvi falar muito coisa sobre esse livro e quero ler, até por ser de literatura nacional. Acho importante darmos apoio. Mas não fazia ideia de que tinha essa coisa de ficção. Não sei, não pareceu ser do tipo de livro que gostaria. Tomara que eu esteja errada :)
    Beijo!

    Sorriso Espontâneo

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  2. Oi, Thamara. Foi através de Perdida que conheci a escrita da Carina Rissi e adorei. Não curti muito a Sofia, mas lembro que li Encontrada numa pressa daquelas. Estou querendo terminar a série mas preciso reler Perdida porque não lembro de quase nada.
    Beijo!
    http://www.leitoraencantada.com/

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  3. Oi, Thamara!
    Eu li Perdida no começo do ano e adorei! Achei a Sofia hilária. Mas decidi não ler os outros livros, exceto Prometida.
    Beijos
    Balaio de Babados
    Concorra ao livro Depois do Fim autografado

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