[Resenha] O que dizem seus olhos, Florencia Bonelli


Título: O que dizem seus olhos
Autora: Florencia Bonelli
Editora: Planeta | Selo: Essência (cortesia)
Páginas: 368
Onde comprar: Amazon

“O amor pode nos levar às nuvens e nos deixar suspensos no ar quente do verão, enquanto um coro entoa as mais lindas canções, ou pode nos jogar sem piedade no fosso mais profundo, escuro e sórdido.”

O que dizem seus olhos nos apresenta à história de Francesca De Gecco, uma jovem argentina filha de italianos, que perdeu o pai quando era nova, mas é muito amada e cuidada por sua mãe, cozinheira da família Martínez Olazábal, e por seu padrinho, Fredo, com o qual trabalha no jornal.

Ela está de férias e viaja para a fazenda de Arroyo Seco e é aqui que sua vida começa a mudar completamente. Francesca se dá bem com todos os funcionários da fazenda e com Sofia Martínez Olazábal, filha caçula da família com a qual ela nutre uma amizade muito grande. Só que, dessa vez, as coisas não serão como sempre, uma vez que Aldo está de volta e com uma noiva. O que nem Francesca, nem Aldo esperavam era que eles se encantariam um pelo outro e esse romance seria impossível.

A mãe de Aldo, Dona Célia, acaba enviando Francesca de volta para a casa do Tio Fredo. Acontece que Aldo, apesar de ter motivos para se afastar de Francesca, não está disposto a fazê-lo e acaba por sugerir coisas que incomodam muito a moça. A única solução que surge é enviá-la para trabalhar na embaixada em Genebra.

Em meio ao sofrimento por ter se afastado de sua mãe, seu tio e seu grande amor, Francesca começa a seguir em frente e acredita que poderá voltar a ser feliz até receber a notícia que será transferida à título de emergência para a Arábia Saudita. Num país com uma cultura completamente diferente e em meio a conflitos políticos, Francesca encontrará Kamal Al-Saud, um príncipe árabe, e viverá muitas coisas.

Logo que esse livro foi lançado, senti um ímpeto enorme de ler, pois gosto muito de romance, principalmente, quando ele tem um teor histórico interessante e, mais, apresenta uma cultura que era, até então, um tabu pra mim. Infelizmente, talvez por conta de toda essa expectativa, esse livro tenha me decepcionado a partir do momento que Francesca chegou na Arábia Saudita e se encantou por determinado personagem, mas vou explicar isso melhor.


Francesca De Gecco é uma personagem forte. Mesmo falando de 1961 nós sabemos que, em muitos lugares, não era fácil ser mulher e, mais difícil ainda, ser uma jovem mulher que corre atrás dos seus sonhos, mas Francesca é exatamente isso, pelo menos no começo. Sofia é uma personagem que merece destaque, pois ela é importante para a história e apresenta um drama para a época muito importante, apesar de não ter sido muito explorado. A Dona Célia, matriarca dos Martínez Olazábal, é uma mulher horrível. Ela não quer a felicidade dos seus filhos, quer apenas que a fortuna deles aumentem e que eles sigam o caminho que ela quer. O Aldo é um personagem ok, ele é interessante, pois conseguimos notar que ele é apaixonado por Francesca, mas é fraco, preza mais bens materiais do que os verdadeiros sentimentos que guarda dentro de si. A mãe de Francesca é muito forte e marcante, gostei das atitudes que ela teve ao longo do livro, mas, sem dúvidas, quem roubou a cena foi o Tio Fredo, que personagem extraordinário! Ele realmente ama sua afilhada e faz o possível para fazê-la feliz, além de compreender seus sentimentos e desejos. Também temos o Kamal que, apesar de para muitos ter sido extremamente apaixonante, foi um personagem bastante ruim do meu ponto de vista.

O desenrolar da história foi como andar numa montanha russa, o começo foi repleto de emoções, com personagens que estavam me agradando e um desenvolvimento que prometia agradar, mas, então, Francesca se apaixonou por Kamal e toda sua personalidade foi descontruída. Ela se tornou fraca e uma marionete nas mãos de Kamal para que ele fizesse o que quisesse com ela.

A transferência de Francesca para a Arábia foi algo que aconteceu de surpresa e tem um certo mistério em torno disso. Mesmo a autora não tendo revelado muitas pistas para explicar isso ao longo da trama e tendo nos entregando sua solução apenas mais pra frente, achei tudo bem óbvio e um tanto quanto machista, infelizmente. Aliás, esse foi um ponto que me incomodou também: atitudes machistas e egoístas sendo consideradas provas de amor.

No entanto, como disse ao longo da resenha, por mais que o livro tenha apresentado pontos que me incomodaram bastante, não posso deixar de elogiar a pesquisa que a autora fez para escrever esse livro nem o contexto histórico e cultural que ela trouxe. Conforme eu ia lendo sobre o que estava acontecendo na Arábia, ia pesquisando e, pasmem, algumas coisas tinham realmente acontecido. Nesse quesito, a autora ganhou muitos pontos comigo.

“— Compreendendo. Vocês, cristãs, têm um conceito de recato muito diferente do nosso. Quando eu era pequena, um francês amigo de meu pai costumava passar algumas semanas de férias em nosso acampamento com suas duas filhas, que eram quase da minha idade. Eu ficava chocada ao ver que, apesar de receberem uma boa educação, as meninas ignoravam questões básicas. Por exemplo, não sabiam que um dia chegaria o sangramento menstrual, e menos ainda o que um marido esperaria delas na cama. Não sei que histórias de cegonhas haviam contado para elas. Quando eu lhes contava o que sabia, elas me olhavam de olhos arregalados e replicavam que jamais fariam aquelas coisas. Para nós, as questões relacionadas ao corpo são naturais, e falamos sobre elas com nossas mães, avós e tias desde pequenas. Por que sentem tanto constrangimento em relação a algo que vive com vocês, que é parte da sua natureza?”

No geral, como vocês devem ter percebido, tive alguns problemas com relação a esse livro, ele não foi ruim, mas também não foi maravilhoso. Mesmo eu tendo tido esses problemas com o livro, acredito que vocês devem se arriscar em ler, quem sabe, assim como muitos leitores, vocês não irão adorar esse livro?

Classificação:

11 comentários

  1. Oi, Bruna!
    Eu gosto muito de livros que falem sobre outras culturas, quando eu vi esse livro eu fiquei bem curiosa com ele só pela capa e a sinopse me interessou bastante. Lendo a sua resenha eu vi que alguns pontos podem me incomodar também, mas ainda quero dar uma chance à leitura. Só que já não vou mais com tantas expectativas como antes.

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  2. Ah, eu estou doida para ler esse livro! Vejo tantos comentários positivos.
    Eu amo livros com um fundo histórico e que envolve culturas diferentes, aprendemos muito.
    Imagino o sofrimento da personagem em ser afastada da família e ainda ir para um lugar totalmente desconhecido.
    Eu amei a sua resenha, e espero ler esse livro em breve.
    Beijos!

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  3. Olá,
    Dependendo do momento histórico não me incomodo com as coisas que você mencionou, o que eu não gosto muito é de envolver os acontecimentos reais da época, não é algo que eu goste de ler. Creio que as partes mais lentas são pontos negativos também.

    Debyh
    Eu Insisto

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  4. Oi Bruna, tudo bem?
    Acredito que meu comentário anterior não tenha entrada.
    Bom, vamos lá. Eu gostei da premissa e achei essa capa linda. Por se tratar de algo histórico, estou acostumada com a lentidão da trama (li um recentemente nesse mesmo estilo). Mas acredito que tb me incomodaria com os pontos que vc abordou =/

    Sai da Minha Lente

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  5. Oi Bru, que saudade das suas resenhas! Eu já vi muitos comentários sobre esse livro e a maioria rasgava elogios de modo que eu cheguei até a estranhar, fico feliz em ver uma resenha que mostra os pontos negativos também, isso sem duvida ajuda a decidir se vale a pena a leitura ou não.

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  6. Olá, eu já vi resenhas bem positivas sobre esse livro, mas tenho certo medo de lê-lo justamente por causa desse machismo, algo que não tem como não se esperar levando-se em conta o país onde a história vai se passar. Detesto quando a mocinha fica boba por causa do personagem masculino. Sua resenha ficou ótima.

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  7. Oi Bruna, sua linda, tudo bem?
    Deve mexer muito com a gente saber que o que a autora trouxe par ao enredo em virtude de sua pesquisa é real. Está acontecendo. Pena que atitudes machistas foram consideradas como amor, a autora poderia até ter feito isso como crítica. Como sou muito romãntica, não sei se conseguirei me envolver com o livro depois disso. Gostei muito da sua resenha!!
    beijinhos.
    cila.

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  8. Uau, que livro fascinante! Parece conter uma obra muito interessante, principalmente por apresentar outra cultura. Gostei bastante da forma que você descreveu casa personagem e fiquei curiosa para saber como será o final dessa história. Dica anotada, bjss!

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  9. Oi! Tudo bem?

    Eu fico tão frustrada quando tenho uma alta expectativa com um livro e quando acabo fico com a sensação que não a expectativa não foi alcançada. Mas adorei sua resenha, você foi ótima em toda sua crítica. Parabéns!


    Beijos
    Blog Diversamente

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  10. Olá, tudo bem?

    É uma pena quando o livro não atende as nossas expectativas. Mas como você ressaltou, é muito bacana notar que a autora se dedicou para trazer uma cultura diferente e real dentro do livro. Não é meu estilo de leitura, mas parece ser bacana para quem quer conhecer a cultura árabe.

    Beijo.

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  11. Oi Bruna, como está?
    Já li outras resenhas desse livro e a tua é a primeira que traz uma opinião não tão positiva e uma interpretação bem menos amistosa da situação da protagonista. Bem, é compreensível que algumas atitudes não sejam consideradas louváveis pela gente até porque a cultura islâmica não é a coisa mais simples do mundo e nem a mais liberal de todas. Apesar de que nada tenho contra o islamismo e até acho fascinante a história da religião e cultura como um todo, já que na faculdade de Letras eu fiz a cadeira de "Humanismo e Cultura Religiosa".
    Abraços e beijos da Lady Trotsky...
    http://www.galaxiadeideias.com/
    http://osvampirosportenhos.blogspot.com

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