Primeiramente, gostaria de dizer
que acho difícil fazer resenha de um livro que você gostou muito, assim como
também acho difícil fazer resenha de um livro que te decepcionou. Não foi uma
leitura que eu diria “Meu Deus, nunca pensei em um livro tão ruim!”, mas,
também, não foi uma leitura que eu diria “Preciso ler novamente”. Talvez, por
ter ido com “muita sede ao pote” eu tenha me decepcionado.
Quem desconhece os eventos fatídicos
do Carandiru, ocorridos em 1992? De posse desse livro, por tratar-se de um
romance espírita, acreditei que ele relataria parte do que aconteceu dentro da
penitenciária de como as pessoas sofreram de um modo geral, mas não é isso que
acontece.
O livro é retratado da
perspectiva de Zeca e conta a vida de Zeca, não de todas as pessoas num modo
geral, como eu imaginei. Até aí, poderíamos até aceitar, afinal de contas, um
presidiário retratando como era viver no Carandiru poderia nos dar bastante
referência, mas, mais uma vez, não é isso que acontece.
Zeca cresceu na favela, brincava
com seus amigos e, após alguns acontecimentos, acabou entrando para o fatídico
mundo das drogas. Não é um universo fácil, repleto de provações e coisas que
ele já não tinha mais como controlar, matar pessoas e continuar a alimentá-las
com drogas. Zeca começou a sofrer com os seus pecados, por assim dizer.
“Aqui se faz, aqui se paga! Você colhe o que semeou! Não há maior
castigo que a própria consciência!”
Quando Zeca foi preso em uma
emboscada e mandado ao Carandiru, pensei: “Agora sim, saberemos o que aconteceu
lá”. Os acontecimentos são superficiais, relatam apenas o sofrimento de Zeca e
o que aconteceu única e exclusivamente com ele. Ele teme se apaixonar, pois
acha isso muito sofredor para a pessoa que ficar com ele.
“Jurei para mim mesmo que nunca mais me apegaria a alguém. A separação
é sempre dolorosa e não seria eu a ceder aos impulsos de um sentimentalismo
barato.”
Após diversos acontecimentos, a
morte seria a única solução para a terrível e triste vida de Zeca. Mas, isso
não é simples, pois a vida dele não é apenas para ele, agora ele tem uma
família que o próprio crime lhe dera. Eu acho que Zeca esteve preso desde o
momento que decidiu entrar para o ramo do tráfico de drogas, mas o Carandiru
demonstra um inferno maior do que ele poderia suportar.
“Se existe um inferno, ele está aqui dentro desse pavilhão. Cada dia á
um exercício de sobrevivência. Se você acorda pela manhã e não tem qualquer
certeza de ver a luz da noite. Descobre rapidamente que os códigos de sobrevida
são infinitamente piores e mais rígidos que os do mundo do crime.”
Após conseguir uma mudança de
pavilhão, achando que sua vida melhoraria, Zeca surpreende-se mais uma vez.
Decide então ajudar aos chefões do presidio indicando quem esta no comando e
como conseguem coisas que não deveriam conseguir dentro da cadeia. Nesse
momento, ele sofre uma morte triste e dolorosa e seu espírito encaminha-se
diretamente para o umbral – um lugar muito triste e repleto de sofrimento, onde
espíritos que causaram problemas vão, antes de renderem-se à luz de Deus.
Zeca não se recorda do que
aconteceu, apenas vive sofrendo constantemente. Quando ele se acostuma à dor e
acha que não pode piorar, chegam espíritos salvadores e o levam para o hospital
onde ele é tratado e amado e apresentado ao amor de Deus. Ele aprende que
precisa arrumar as coisas, precisa voltar e consertar e, acima de tudo, ele
aprende que essa vida na favela sem muitos recursos fora uma escolha dele, para
que se redimisse de sua vida anterior, algo que, infelizmente, não deu muito
certo.
O livro, em si, é bom, retrata
sobre carma, amor, perdão, escolhas, decepções, enfim, sobre todos os
sentimentos que os humanos têm. Zeca foi um guerreiro, um vencedor dentre
tantos outros que não aceitam a vida, ele conseguiu entender os ensinamentos de
Deus e acostumar-se com isso.
“Tudo o que me foi ensinado nesta nova dimensão de vida eu procurei
passar com minhas palavras para que outros, no desespero de suas experiências,
pudessem encontrar algum alívio e consolo em seu sofrimento.”
Recomendo o livro, mas não vá com
muita “sede ao pote”, pois ele retratará apenas a história de Zeca e não
como o Carandiru foi para todos.
Informações adicionais
Título: Carandiru
Autor: Renato Castellani
Editora: Lachãtre
Páginas: 208
Nota da Leitora: 3 estrelas
Olá!
ResponderExcluirAssim que nós pensamos no Carandiru, pensamos também em uma história triste e altamente chocante. E quando esperamos isso de um livro, é quase impossível não nos decepcionarmos. Não porque o livro seja ruim, mas porque é muito difícil que ele atinja as nossas enormes expectativas.
Adoro romances espíritas, me envolvo com eles de uma forma tão forte!
Quem sabe não leio um dia?
Um beijo ;*
Juliana . Oliveira
http://trocandoconceitos.blogspot.com.br/
Olá Juliana!
ExcluirConcordo totalmente contigo. Quando retratamos um assunto que todos conhecem mas gostariam de conhecer mais, normalmente, a decepção é certa!
Você deveria ler, é um bom livro apesar dos pesares.
Beijos